Fotografia: Um dia de cada vez (One day at a time)

A natureza ensina. A cada dia, um dia diferente. A cada dia diferente, a vida se renova. A cada renovar, o futuro. Um dia de cada vez.

Nature teaches. Every day, a different day. Every day is different, life is renewed. With each renew, the future. One day at a time.

La naturaleza enseña. Cada día, un día diferente. Cada día es diferente, la vida se renueva. Con cada renovación, el futuro. Un día a la vez.

Fotos: Chronosfer.
Publicidade

Ficção: Martin (Fiction: Martin)

MARTIN

Nem a chuva intermitente afasta Martin do banco da praça. O jornal, dobrado, borra a roupa. Quase nenhuma, seja o frio intenso. Olha as pessoas à espera do ônibus. Formam uma única massa, pensa. Desvia o olhar, leva-o ao fim da avenida. Pouco antes de a primeira quadra alcançar a metade, a noite avança. Ganha espaço da luz acesa, tem nos olhos ainda o resto do dia. Os traços das mãos são segredos, seu baú de carne e ossos e veias. Os bolsos escondem as fatias do tempo. Repartidas dia após dia, escondem o mofo mastigado pelas horas. Mede a travessia… um, dois, três, quatro passos… para o outro lado da rua sem o ânimo dos músculos. Falar para dentro a conversa diária entre uma palavra e outra sobrevivente do dilúvio que arrastara o vocabulário, seu sinal de visita aqui, porta aberta para quem chega.
A noite seca o sono. Ajeita alma, coração e corpo entre as fissuras da madeira. Acomoda as fundas rugas, de onde nascem densos brancos, que se dobram sem rebeldia. Ao lado, rente ao chão, os sonhos dormentes feitos de relâmpagos e estrelas.
Manhã, retrato sem cor, por trás das janelas despertam sombras e sol.

Even the intermittent rain doesn't keep Martin from the park bench. The newspaper, folded, smears the clothes. Almost none, be it the intense cold. Look at the people waiting for the bus. They form a single mass, he thinks. He averts his gaze, takes him to the end of the avenue. Just before the first block reaches the halfway point, the night progresses. He gains space from the light on, he still has the rest of the day in his eyes. The traces of his hands are secrets, his chest of flesh and bones and veins. Pockets hide the time slices. Divided day after day, they hide the mold chewed by the hours. Measure the crossing... one, two, three, four steps... to the other side of the street without the energy of the muscles. To speak inside the daily conversation between one word and another survivor of the deluge that washed away the vocabulary, your visit sign here, an open door for those who arrive.
The night dries up sleep. It arranges soul, heart and body between the cracks in the wood. It accommodates the deep wrinkles, from which dense whites are born, which bend without rebellion. To the side, low to the ground, the sleeping dreams made of lightning and stars.
Morning, colorless portrait, shadows and sun awaken behind the windows.

Incluso la lluvia intermitente no aleja a Martin de la banca del parque. El periódico, doblado, mancha la ropa. Casi ninguno, sea el frío intenso. Mira a la gente que espera el autobús. Forman una sola masa, piensa. Aparta la mirada, lo lleva hasta el final de la avenida. Justo antes de que el primer bloque llegue a la mitad, la noche avanza. Gana espacio a partir de la luz encendida, todavía tiene el resto del día en los ojos. Las huellas de sus manos son secretos, su pecho de carne y huesos y venas. Los bolsillos ocultan los intervalos de tiempo. Divididos día tras día, esconden el moho masticado por las horas. Medir el cruce... uno, dos, tres, cuatro pasos... al otro lado de la calle sin la energía de los músculos. Hablar dentro de la conversación diaria entre una palabra y otra sobreviviente del diluvio que arrasó con el vocabulario, firma aquí tu visita, una puerta abierta para los que llegan.
La noche seca el sueño. Dispone alma, corazón y cuerpo entre las grietas de la madera. Acomoda las arrugas profundas, de las que nacen blancos densos, que se doblan sin rebeldía. A un lado, pegado al suelo, los sueños dormidos hechos de relámpagos y estrellas.
Mañana, retrato incoloro, sombras y sol despiertan tras las ventanas.

Foto: Chronosfer.

Fotografia: Formas transformam (Shapes transform)

Os arcos anunciam as formas. O olhar transforma. O encontro de cada um é a revolução do pensamento. O do olhar, nas retinas do caminhar.

The arches announce the shapes. The look transforms. The meeting of each one is the revolution of thought. The gaze, in the retinas of walking.

Los arcos anuncian las formas. La mirada se transforma. El encuentro de cada uno es la revolución del pensamiento. La mirada, en las retinas del andar.



Foto: Chronosfer.

A solidão do tempo (The loneliness of time)

Dentro do tempo, o espaço. No espaço, o tempo. Nele, habita a solidão de um tempo que nunca chega. Nos traços do espaço, a solidão da natureza fora do seu tempo.

Within time, space. In space, time. In it dwells the solitude of a time that never comes. In the traces of space, the solitude of nature outside its time.

Dentro del tiempo, el espacio. En el espacio, el tiempo. En él habita la soledad de un tiempo que nunca llega. En las huellas del espacio, la soledad de la naturaleza fuera de su tiempo.

Foto: Chronosfer.

Ficção: Sanvicente

Sanvicente decide fechar os olhos. Entra na noite sem deixar as marcas dos seus passos. Está distante demais dos cheiros e dos pequenos fachos vividos. Havia se acostumado com o escuro. Desfeita a venda, os tons castanhos da íris tornaram−se estilhaços na memória. A segunda decisão veio com o horizonte: buscar o dentro, mergulhar na vida, para o início até o fim.

A lua recorta o vidro negro em listras que se alongam pelo piso de madeira. Ele olha as nuvens. É o começo. No dentro não existe o tempo. E as vértebras das formas e das lembranças ganham sentido. O que perdera estava na luz das lâminas em cujos espelhos e reflexos se escondem pedaços da alma. Sobre o caminho, os trilhos gastos acomodam os velhos sapatos. A gaita de boca repousa no mesmo banco da estação de trem e as ruas continuam com suas luminárias à vela. A chama arde e desaparece ao amanhecer. Neste presente descobre o futuro: o apagamento do passado. Vê a cerração chegar, cobrindo a terra e o campo. Deita-se sobre um dos trilhos, a cabeça sobre os braços. Ali, tudo é urgente. O mundo de dentro se abre. A hora da escolha está próxima. A memória está em todos os lugares e em nenhum lugar. Ergue seu corpo e entra na bruma avermelhada.

Sanvicente sabe que a palavra é a única saída. Fecha os olhos sem se despedir. Há muito havia perdido o tempo. De dentro e de fora.

Sanvicente decides to close his eyes. Enter the night without leaving the marks of your steps. It is too far from the smells and the small curls experienced. He had gotten used to the dark. Undone for sale, the brown tones of the iris became shrapnel in memory. The second decision came with the horizon: to seek the inside, to immerse yourself in life, to the beginning to the end.

The moon cuts the black glass into stripes that stretch across the wooden floor. He looks at the clouds. It’s the beginning. In the inside there is no time. And the vertebrae of forms and memories make sense. What he had lost was in the light of the blades in whose mirrors and reflections hide pieces of the soul. On the way, the worn rails accommodate the old shoes. The harmonica of mouth rests on the same bench of the train station and the streets continue with their candle lamps. The flame breaks and disappears at dawn. In this present discovers the future: the payment of the past. Watch the cerration arrive, covering the land and the field. Lie on one of the tracks, head over arms. There, everything is urgent. The inside world opens up. The time of choice is near. Memory is everywhere and nowhere. Lift your body and into the reddish mist.

Sanvicente knows the word is the only way out. Close your eyes without saying goodbye. I’d long lost my time. Inside and out.

A FOTOGRAFIA DOS DIAS:

Texto e Fotografia: Chronosfer.

Fotografia: Apenas o olhar sobre a vida (Just the look at life)

Caminhar é sempre o além de ir adiante. Ou voltar. É o olhar que acolhe a vida e a vida que acolhe o olhar. Dentro do cotidiano, esse viver é sempre ir além do próprio olhar.

Walking is always the addition of going forward. Or come back. It is the gaze that welcomes life and life that welcomes the gaze. Within everyday life, this life is always to go beyond one’s own gaze.

Caminar es siempre la adición de ir hacia adelante. O volver. Es la mirada que acoge la vida y la vida la que acoge la mirada. Dentro de la vida cotidiana, esta vida es siempre ir más allá de la propia mirada.

Foto: Chronosfer.